Atenção e apoio familiar são poderosos antídotos da depressão pós parto
“Eu me sentia incapaz, insegura, tinha medo e chorava muito todos os dias. Me perguntava: como vou cuidar do meu filho? Quando eu pegava aquela criança para amamentar eu ficava mais angustiada, me sentia inútil justamente por sentir todos aqueles sentimento. Me recriminava e me julgava muito.”
Esse é o relato de M.B, uma mãe que há 15 anos sofreu de depressão pós-parto. Por medo do julgamento ela não quis se identificar. Com os olhos carregados de emoção, a bacharel em Direito, hoje com mais de 50 anos, contou que poucas vezes falou sobre isso e se permitiu contar essa história para ajudar outras mães.
Assim como ela, milhares de mulheres ao redor do mundo sofrem de tristeza, apatia, medo logo após viverem um dos momentos mas lindos na vida daquelas que sonham em ser mães: a chegada do bebê. A profunda tristeza surge com uma mudança burca e pode ocorrer em momentos de felicidade. O problema é grave e tem crescido com o passar dos anos. Uma pesquisa da Universidade de Carolina do Norte (EUA) aponta que até 20% das mulheres sofrem com alterações significativas de humor: é a depressão pós-parto. E boa parte delas não reconhece os sintomas ou não encontra meios de buscar ajuda.
No depoimento, MB lembrou que na época do nascimento do filho tentava mostrar para os familiares que estava bem, que não buscou ajuda e que não recebeu nenhuma orientação dos médicos sobre o assunto. Foi na fé e em meio a mamadas com o filho no colo, que começou a falar pra si mesma: “Vai ficar tudo bem”. Hoje ela comemora o amor que recebe do filho adolescente.
Muita coisa mudou nesses 15 anos. Embora ainda seja muito doloroso para as mulheres falarem sobre suas experiências e angústias, isso é necessário para ajudar muitas mães e seus familiares nesse momento delicado. Tem tratamento e a lei assegura o apoio de um profissional.
Segundo Missilene Fortes, diretora administrativa da Provisa Gestão de Saúde, empresa que gerencia boa parte dos planos que atendem as indústrias do Polo Industrial de Manaus, os planos de saúde já disponibilizam atendimento psicológico, demanda que teve aumento por conta dos conflitos emocionais enfrentados pelas mães no pós-parto, conhecido como período puerperal.
“Atualmente é assegurado pela Agência Nacional de Saúde – ANS, a disponibilização do atendimento psicológico e às mães podem usufruir desse acompanhamento tanto antes, como após o parto”, afirmou. Ela defende que o acompanhamento, atenção e cuidado ao longo da gravidez podem dar à mulher o apoio necessário para evitar a depressão. “Por esse motivo nós realizamos há sete anos o programa ‘Mamãe & Bebê’ que anualmente assiste 200 grávidas, todas funcionárias do Distrito.
A técnica de enfermagem do trabalho Deborah Souza é uma dessas mães. Aos 36 anos, no sexto mês à espera do segundo filho, ela conta que não sofreu desse profunda tristeza, mas conhece mulheres que já passaram por isso. “Eu trabalho em um lugar onde algumas mulheres voltaram da licença-maternidade sofrendo de depressão pós-parto. O cuidado, acompanhamento e suporte com as orientações do pré-natal têm sido importantes e são uma forma de mostrar apoio às mães nessa fase. A gente fica muito vulnerável quando um bebê nasce e ainda enfrenta oscilações de humor”, destacou.
Apoio é a palavra mais defendida pela psicóloga Aline Fernandes quando o assunto é prevenir a depressão pós-parto. Mãe, bebê e o pai precisam ser auxiliados e apoiados pelos familiares durante e após o nascimento da criança para que essa mudança seja mais leve e confiante.
Ela explica que a depressão é identificada, entre alguns fatores, pela visão negativa sobre o mundo, sobre si mesma e sobre o futuro. A pessoa não acredita que conseguirá passar por determinada dificuldade. “No caso da depressão pós-parto, normalmente já é uma mulher que tinha um padrão depressivo, que não se sente capaz de cuidar do seu bebê. Não se sentindo devidamente apoiada, ela acaba entrando em sofrimento”, explicou. Ao contrário do que pensam, a psicóloga conta que o pai também pode sofrer de depressão após o parto da companheira, associada ao fato de não saber se vai conseguir dar conta das obrigações nesta nova fase.
O enfermeiro obstetra, especialista em parto humanizado, Edilson Albuquerque, que já mais de mil partos, também acredita que informação, o acompanhamento do pré-natal durante toda a gestação, e principalmente a presença do pai e o apoio familiar, são determinantes para evitar que a doença e defende: “A mulher precisa entender que ela é o único ser humano que tem o dom de gerar uma vida. Ela tem que se sentir empoderada disso e sentir que ela faz parte de um milagre. A família precisa estar junta para dar esse apoio emocional, o esposo deve estar presente e as relações sexuais precisam ser frequentes. Tudo isso vai fazer com que ela se sinta amada e cuidada”, finalizou.