O diagnóstico de um câncer certamente é uma das notícias mais difíceis na vida de qualquer pessoa. Neste momento, o paciente, familiares e amigos se enchem de perguntas, incertezas e inseguranças. E para entender como as mulheres podem enfrentar a doença sem se deixar levar pela tristeza e questionamentos, conversamos com a psicóloga da Rede de Hospitais São Camilo de São Paulo, Rita Calegari. Confira as dicas da profissional!
Ao receber a notícia do câncer, como o paciente pode se preparar psicologicamente para a luta?
Imediatamente após receber o diagnóstico oncológico, cada pessoa reage utilizando os mecanismos de enfrentamento que já possui. Desta forma, mulheres que possuem um maior aprendizado de vida, espiritualidade, etc, encontra em si mesma mais recursos emocionais para lidar com a notícia. Esses recursos aliados ao apoio da equipe multiprofissional de saúde, família e dos amigos, irão contribuir para que ela possa “organizar-se” internamente e externamente para as etapas que se sucedem (tratamento do câncer, cirurgia, etc).
Esse seria o melhor dos cenários de enfrentamento, ou seja, bons recursos internos (pessoais) e bons recursos externos (rede de apoio). Mas sabemos que infelizmente nem sempre a situação é essa.
Quando a mulher tem poucos recursos internos, mas os externos são eficientes, apesar do sofrimento pessoal ser intensificado, a rede de apoio ajudará muito a passar por esta etapa, atuando muitas vezes como apoio, incentivo e ajudando-a a ressignificar essa experiência – o que pode fortalecê-la no futuro.
Pessoalmente preocupa-me o pior dos cenários: poucos recursos internos de enfrentamento e ainda por cima, rede de apoio ineficaz. Nestas condições, a mulher sentirá possivelmente desamparo, abandono, insegurança e medo, muito acima do esperado nesta condição da vida.
Como a família pode ajudar no apoio psicológico ao paciente?
As inseguranças por parte da paciente são esperadas, o medo e a ansiedade também. Questões como: se o tratamento será eficaz, se há risco de morte, se o tratamento será doloroso, se os cabelos vão cair, se perderá a beleza, se conseguirá passar por toda essa etapa sem desmoronar, como sua rotina será afetada, se vai precisar parar de fazer atividades que gosta, se poderá continuar a trabalhar, cuidar dos filhos, da família… são tantas questões!
Algumas perguntas poderão ser respondidas logo no início, outras dependerão do tempo e da resposta do organismo da mulher ao tratamento. Agora, imagine ter que lidar com tudo isso?
Ter apoio da família, no sentido de ser tranquilizada, respeitada, receber ajuda, elogios pelo esforço e empenho em seguir o tratamento corretamente, ajudará bastante.
Quando a família ajuda e dá apoio, a mulher se sente importante, merecedora do amor e consideração e tende a se sentir mais amparada. Entretanto, a família precisa entender que o papel dela em ajudar pode não ser o suficiente para que a paciente responda bem ao tratamento – e nesta situação o apoio profissional de um psicólogo pode esclarecer os papéis e minimizar os conflitos da família.
Qual a importância do acompanhamento psicológico nestes casos?
O psicólogo tem treinamento no comportamento humano, no diagnóstico de comorbidades de doenças mentais e na mediação de conflitos. Seu papel é avaliar como é o enfrentamento da paciente/família nesta situação de crise inesperada, quais são suas forças e fraquezas e como atuar para que ajudem no tratamento oncológico.
Nós não fazemos mágica e nem lemos os pensamentos das pessoas, por isso, a paciente precisa desejar nossa ajuda, aceitá-la ou pelo menos ter curiosidade no que podemos fazer para ajudar. A aproximação do psicólogo deve ser oportunidade, e se firmar como uma parceria entre o profissional, o paciente e a família. Sendo assim será mais tranquilo o processo terapêutico que contribuirá para o tratamento.
O bem-estar psicológico é importante para a conquista da cura?
Absolutamente importante.
Nós separamos saúde psicológica da saúde do corpo por uma questão cultural bastante errônea. Não há corpo sem emocional ou emocional sem corpo, essas esferas da nossa vida existem em conjunto. Uma complementa a outra. Sendo assim, as emoções exercem uma importante influência na nossa saúde, nas nossas doenças, no tratamento e consequentemente na resposta ao tratamento.
Quando nossa saúde psíquica está adequada, vamos receber, enfrentar e reagir aos problemas da vida com mais assertividade e força. Com isso temos nossas chances de sucesso aumentadas.
Quando nossa saúde psíquica vai mal, tudo fica intensificado, nosso humor não nos permite enxergar as oportunidades e vemos só as dificuldades. Em consequência, alcançar uma vitória parece impossível. Em decorrência disso, a pessoa pode até investir menos e dedicar-se menos, pois começa uma luta já achando que irá perder.
É claro que não basta acreditar na vitória para vencer e muito menos superar uma doença. Mas sem canalizar as energias adequadamente (a atenção, o esforço, o empenho) quando estamos vivendo uma situação de crise, nós mesmos passamos a fazer parte do problema e não da solução.
Essa tende a ser a contribuição do psicólogo: clarificar e até mesmo traduzir o comportamento e emoções da paciente para que, de posse desse entendimento, ela tenha mais chances de decidir com autonomia como quer conduzir sua história de vida lutando pela saúde.
*Rita Calegari é coordenadora psicossocial do Hospital São Camilo.
Fonte: Mulher com saúde