Prevenindo o excesso de peso na gravidez

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O excesso de peso na gravidez pode causar doenças na gestante e no bebê, além de ser um grave fator de risco para a obesidade infantil. Para prevenir essas complicações, o ideal é planejar a gravidez e fazer o acompanhamento com obstetra e nutricionista durante o pré-natal. Na entrevista a seguir, a nutricionista Cláudia Saunders, coordenadora do Grupo de Pesquisa em Saúde Materna e Infantil (GPSMI), no Departamento de Nutrição e Dietética do Instituto de Nutrição Josué de Castro (UFRJ), esclarece o assunto.

 

OIN – Quais os riscos para as gestantes quando há sobrepeso na gravidez?

CLÁUDIA SAUNDERS – O excesso de peso na gestação traz maior risco de complicações maternas e para o bebê, tanto a curto quanto em longo prazo. A taxa de mortalidade materna é 50% maior em gestantes obesas, principalmente devido às síndromes hipertensivas da gravidez, como a eclampsia. Outros problemas que podem ocorrer na gestante com excesso de peso são diabetes gestacional e do tipo 2, infecções no trato genital-urinário na fase que vai até 45 dias após o parto (puerpério), hemorragias pós-parto, tromboembolismo (coágulo em uma veia), trabalho de parto prolongado, necessidade de cesárea, retenção de peso no período pós-parto, dificuldade de amamentação e pressão alta.

 

OIN – E para os bebês?

CLÁUDIA – O excesso de peso na gravidez pode prejudicar a saúde do feto e da criança. Por exemplo, há risco de má formação congênita, associada a defeito no tubo neural (ele dá origem ao cérebro e à medula espinhal) devido à ingestão deficiente de ácido fólico (vitamina B6). Também há maior probabilidade de o bebê nascer muito grande (com mais de quatro quilos), de sofrer de obesidade infantil, resistência insulínica na adolescência e obesidade na fase adulta. Os bebês grandes têm mais chance de hipoglicemia (redução dos níveis de glicose no sangue) ao nascer e outras doenças que exigem um cuidado intensivo.

 

OIN O ganho de peso materno influencia o peso ao nascer?

CLÁUDIA – Em estudo com 433 gestantes adultas brasileiras atendidas em maternidade pública do Rio de Janeiro, verificou-se que cada 1kg de peso adquirido até a 14ª semana de gestação (1º trimestre) aumenta o peso ao nascer em 30g; no 2º trimestre (14-28 semanas) aumenta em 28g e no 3º trimestre (28-40 semanas) aumenta em 43g. Além disso, o estudo mostrou que à medida que o Índice de Massa Corporal (IMC) materno (relação entre peso e estatura) cresce, também aumenta o peso do bebê ao nascer.

 

OIN – O que caracteriza o sobrepeso na gravidez?

CLÁUDIA –O ganho de peso na gestação é estimado em função do IMC, calculado, preferencialmente, antes da gravidez, ou até a 14ª semana de gestação. Conforme o IMC, estima-se a faixa de ganho de peso saudável na gestação. As mulheres de baixo peso devem ganhar mais e as obesas, menos. E isso é avaliado com obstetra e nutricionista.

 

OIN – É verdade que 45% das mulheres obesas no mundo ganharam peso após a gravidez?

CLÁUDIA – Os quilos a mais da mãe após o nascimento do bebê sofrem influência do excesso de peso na gestação. Mulheres que engravidam mais de uma vez com sobrepeso têm maior chance de acumularem mais quilos após o parto.

 

OIN – Como prevenir o sobrepeso na gravidez?

CLÁUDIA A mulher deve planejar a gravidez pelo menos três meses antes; iniciar o acompanhamento com obstetra e nutricionista no momento em que pretende engravidar e tratar as deficiências nutricionais, como, por exemplo, anemia (por falta de ferro), carência de vitaminas (ácido fólico, B12, D e A). O uso de suplementos vitamínicos deve ser feito sob orientação. A futura mamãe deve engravidar com o seu IMC adequado; ter um ganho de peso na gestação conforme o seu IMC pré-gestacional; voltar ao peso pré-gestacional em até um ano após o parto e programar a nova gravidez com um intervalo mínimo de 18 a 24 meses.

 

OIN – Como deve ser a alimentação na gravidez?

CLÁUDIA – Deve ser fracionada, com pelo menos três refeições (café da manhã, almoço e jantar) e dois lanches saudáveis por dia. A gestante não deve ficar mais de três horas sem se alimentar, para evitar a tontura e o sono excessivo, devido à queda da pressão arterial ou baixa da glicemia, que podem ser agravados pelo jejum prolongado. A alimentação deve ser variada, o prato colorido, com alimentos naturais e minimamente processados, incluindo integrais (arroz, pães, biscoitos); feijão; soja; grão-de-bico ou lentilha; sementes (por exemplo, de girassol, gergelim, abóbora); castanhas (do Brasil, de caju, nozes, amendoim, amêndoas); frutas inteiras e da safra; carnes magras; aves e peixes sem pele; bife de fígado médio uma vez por semana em uma das refeições; vegetais folhosos verdes e alaranjados; vegetais cozidos; azeite; leite e derivados do leite, preferencialmente com reduzido teor de gordura. A gestante deve beber bastante água, pelo menos seis a oito copos por dia. Os alimentos prontos, congelados e industrializados devem ser evitados, assim como os ricos em sal, como enlatados, embutidos, frios, salgados e alimentos ricos em açúcar refinado e gorduras. Os produtos diet e light contendo edulcorantes (adoçantes) devem ser restritos aos casos de gestantes com diabetes

 

OIN – O que as gestantes acima do peso podem fazer para ter filhos saudáveis?

CLÁUDIA –As gestantes com excesso de peso devem ser acompanhadas durante toda a gestação por equipe multidisciplinar, incluindo nutricionista, que fará o monitoramento do ganho de peso.

 

 

Fonte: Obesidade Infantil Não

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